quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Você comprou seu ingresso?

Você comprou seu ingresso?

O show do palhaço
visto de fora
das grades
até
parece mesmo
um
circo
de
verdade.

Por Walber Dias
filme; Ninfomaniaca

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Kamila Iasmin

O poeta sabe de muitas coisas. Se você apertar uma campainha e sair correndo, a emoção maior não vai ser da pessoa atender o nada, mas você sair correndo com medo que ela te veja. Um bom exemplo. A mesma coisa é se você chamar um ônibus, amarrar o cadarço no degrau e depois agradecer pelo motorista ter parado. O frio na sua barriga não será por causa do cadarço amarrado, mas por ter feito o motorista de idiota. O poeta sabe de muitas coisas. Se não como faria todas as tuas prosas? Como ele saberia o que escrever em cada linha? Sabemos que horóscopo, se verdadeiro ou não, só é famoso porque as pessoas são suficientemente inseguras e sentem como se tivessem que ouvir alguém falando o que elas tem que fazer a cada dia. Uma palavra que você lê de um poeta, se você observar novamente, verá que há coisas escondidas entre uma letra e outra. O poeta sabe de muitas coisas. Mas deixo uma coisa bem clara: não sabemos de tudo. Assim como você, não sabemos o que fazer após o término de um beijo - por isso colocamos a dúvida na poesia. Não sabemos o que fazer quando não somos correspondidos e quando isso corrói nosso coração de uma forma que não podemos fazer nada que impeça. Os poetas sofrem de amor. Os poetas sorriem sozinhos no ônibus e são loucos. Não temos as respostas para todas as dúvidas. Não sabemos o que fazer quando temos que segurar o choro diante de uma situação. Somos poetas, somos pessoas normais. Também choramos, também amamos. Os olhares de pessoas nos fascinam de uma forma que não dá para explicar, nem mesmo na poesia. Os poetas se paralisam com o olhar de quem se apaixona. Não sabemos o que fazer quando tudo cai ao redor e as nossas mãos não se fortalecem. A única saída que temos é escrever: é isso que nos torna poetas.

Texto por Kamila Iasmin

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Por Janini Alba

Fumo na frente do espelho.
No banheiro. Acolhida, refugiada.
Escondida de outra normatividade.

Já foi feito? Me pergunto. Sei que sim.

Quem não se viu com o cigarro na mão? Estrutura pesada, difícil de ser pega.

Eu sou teimosa. Sou sim.
E não é medo, não. Não deles.
Dos outros? Que outros?
"Tu pensas demais", diz os desconhecidos. 
"Age banalmente", diz meus próximos. 
Junta os dois, então. 
Não dá. 
Lembra da imagem? Passa nada na cabeça mesmo. Tem miragem na frente.
Mosquito na tela da TV.
"Sai daí, espanta ele!"
Me espanta também, me bota pra longe.
Só não fuma na frente dos telespectadores. 
Sonha longe deles.
Mas, se me botar pra longe, fico onde?
Justamente. Onde?


Por Janini Alba


sexta-feira, 29 de julho de 2016

Poema de Gabrielly Lessa

Nasci nu
Nu de corpo
De alma
De sentimentos
Tormentos
E lamentos.
Despida de todo e qualquer impedimento.
Despida de vergonha
De pudor
De toda sanidade
Da bobagem que pregam os puritanos de coração
Dos conceitos machistas de todos os irmãos.
Se eu quiser tirar a roupa?
Ah, meu bem
Eu vou tirar!
Vou ficar nua
Talvez corra pelada na rua
Vou dar!
E nem vem reclamar.
Se sua mãe
Tia
Prima
Vizinha
Quiserem tirar a roupa
Elas vão tirar!
Nascemos pra despir os corações
As razões
As incertezas
As opiniões que prendem
Que te jogam numa cadeia
Espiritual
Sentimental.
Nascemos pra viver nas noites boêmias
Nas festas de fins de semana
Nos bares vagabundos de esquina.
Nascemos pra chegar bêbadas em casa
Pra fazer escândalo na rua
Pra bater de frente com quem quiser impedir
É, meu bem
Devo repetir!
Viemos aqui pra despir!
Despir os que prezam pelos bons modos
Que agem pelos bons preceitos.
Os recatados de alma que me perdoem
Me perdoem pela nudez
Pela baixa qualidade de inspiração
Pela sacanagem
Pela apologia à poesia de quinta
Me perdoem por falar a verdade
Mas nasci na putaria
Nasci da putaria
Na hostilidade
Na mais pura insanidade.
Não vim aqui pra agradar gente frígida
Nem aceitar seus conselhos de merda.
Malditos tolos que não se libertam!
Que não tiram a roupa
Que não sentem prazer!
Sou vulgar demais?
Não.
Sou vadia demais?
Quem sabe...
Sou puta?
Ah, querido
Se ser puta é viver do modo que mais lhe agrada
Que te faz feliz
Satisfeita
Realizada
Então, puta eu vou ser
Pode me chamar de puta!
Sou puta com todo prazer.


Por Gabrielly Lessa

terça-feira, 26 de julho de 2016

Escrever para não enlouquecer

[...] Escrever é uma brincadeira bem engraçada. As rejeições ajudam porque fazem você escrever melhor; as aceitações ajudam porque fazem você continuar escrevendo. Daqui a 11 dias terei 43 anos de idade. Parece ser o.k. escrever poesia aos 23, mas, quando você está nessa aos 43, você precisa concluir que tem algo um pouquinho desvirtuado na sua cabeça - mas tudo o.k. - outro cigarro, outra bebida, outra mulher na sua cama, e as calçadas ainda estão lá e as minhocas e as moscas e o sol; e não é da conta de nenhuma outra pessoa quando um homem prefere perder tempo com um poema do que investir em imóveis, e onze poemas estão bons, fico contente que você tenha encontrado tantos. As cortinas se agitam como uma bandeira sobre o meu país, e a cerveja é grande.



Trecho de uma carta de Charles Bukowski para Marvin Malone, 5 de agosto de 1963. 
Esta carta pode ser encontrada no livro Escrever para não enlouquecer, Charles Bukowski.

sábado, 23 de julho de 2016

Olá - Charles Bukowski


olá

às vezes mesmo escrever não ajuda
e você fica sozinho com qualquer coisa que esteja
matando você
e a estupidez das
paredes penetra
em você
e lá no canto está a
garrafa -
sua última amiga, sua última amante,
seu outro teclado.
olá.


Por Charles Bukowski

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Por Janini Alba

01/05/16
"Eu lembro de uma noite parecida como essa. Estava tão frio e silencioso que dava para ouvir o vento soprando,as folhas não paravam um segundo sequer quietas. O gato do outro lado da rua, observando com o escuro que vinha atrás dele... e como era calma. Meus olhos se enchem de agonia com a vontade de pular a janela do quarto e ir andar tranquilamente com o vento batendo em minhas bochechas, lembrar que ainda estou viva e ao meu redor ocupo essa rua tão bonita (quando vazia). Essas anotações ou descrição não vão te fazer sentir como me sinto agora, queria que pudesse, mas essa vontade guardo só para mim. Eu sei, eu deveria ignorar tudo e ir, mas parece uma frase que não consigo completar, quando digo algo que mal tenho conhecimento, quando minto sem perceber, quando adio meus deveres. O céu está azul escuro, o gato já não está mais ali, já passam alguns carros e tudo volta a ser como foi denominado, o frio vai durar mais, as folhas vão secar e cair. Agora tudo é perfeito de ver, até a antena ou a caixa d'água em cima da casa da vizinha á frente, as muretas, o carro velho parado a uns nove meses, a pintura das casas mofadas e descascando, os fios do poste com rabiola e linha presa. Eu, apoiada na cabeceira da cama querendo apagar a luz da vela."

Por Janini Alba